PIB medido pelo Banco Central melhora, mas preocupa especialistas

A economia registrou crescimento de 0,23% em agosto, na comparação com julho, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), indicador considerado a prévia do Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com os dados do BC, em relação a agosto de 2023, o crescimento foi de 3,1%, o que reforça a percepção de crescimento da economia.

No acumulado de 12 meses até agosto, o índice registrou um avanço de 2,5%, reflexo do crescimento moderado, porém consistente, ao longo do período. Desde o início de 2024, o indicador acumula alta de 2,9%, o que reflete o resultado de políticas expansionistas promovidas pelo governo federal, que proporcionaram um ambiente de consumo mais favorável e taxa de desemprego em queda.

Na avaliação do economista chefe da Bluemetrix Asset, Renan Silva, a expansão da economia está diretamente relacionada à melhora das condições de trabalho e da renda, alinhado com o aumento das vendas no varejo. “Outro motivo é o aumento expressivo na concessão de crédito, agora, no acumulado de 2024, que em razão da maior confiança, tanto do consumidor quanto do empresário, aumentou o ímpeto dos bancos voltarem a emprestar com mais força”, analisa.

Para o economista, o impulso deve continuar até o final do ano, com a proximidade de datas importantes para o varejo, que costumam aquecer a economia, como a Black Friday e o Natal. “Algumas instituições financeiras já estão projetando o PIB até na ordem de 3,3% até 3,5% para 2024”, completa Silva.

Apesar do otimismo e das projeções que apontam para um crescimento maior do que o projetado anteriormente, parte dos especialistas aponta que é necessário ter cautela ao prever qual será o ritmo de expansão da economia nos próximos meses.

Embora celebre o resultado, o professor de Economia do Ibmec-DF, William Baghdassarian, destaca que a insistência do governo em aumentar a receita sem cortar as despesas pode ser maléfica em médio ou longo prazo. “(O governo) gasta mais do que ganha. Então ele está acumulando dívida. Esse acúmulo de dívida faz com que as pessoas comecem a questionar se o governo realmente vai pagar a dívida”, questiona o economista. Ele também cita o aumento do número de postos de trabalho como um fator que gera maior pressão inflacionária a nível federal.

O professor do Ibmec avalia que é necessário acompanhar a trajetória da inflação. No último Boletim Macrofiscal, divulgado em setembro pelo Ministério da Fazenda, a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2024 foi revisada de 3,9% para 4,25%.

Já para o professor de Economia da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, Luciano Nakabashi, as principais questões que devem permanecer no radar, além da perseguição à meta fiscal, são a sustentabilidade do crescimento e a própria inflação. “Então a gente tem tido esse crescimento bastante alto, que é positivo, mas o problema é essa questão inflacionária e a questão do deficit. Não é um crescimento sustentável”, pontua.

No mercado financeiro, os analistas elevaram a estimativa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2024, pela segunda semana consecutiva, passando de 4,38% para 4,39%, de acordo com o Relatório de Mercado Focus, divulgado ontem, também pelo BC. Para 2025, no entanto, a previsão de inflação caiu de 3,97% para 3,96%. Para o produto interno bruto (PIB), a mediana das projeções para 2024 subiu de 3,0% para 3,01%. A previsão para 2025 permaneceu estável em 1,93%, enquanto a estimativa para 2026 segue em 2,0% há 62 semanas.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse, ontem, que o governo federal pode aumentar, mais uma vez., a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ainda este ano. Durante um evento promovido pelo banco Itaú BBA, o chefe da pasta sinalizou que a equipe econômica pode revisar para cima a atual projeção de 3,2%.

Em setembro, a secretaria de Política Econômica do ministério, revisou para cima a estimativa de crescimento que, até julho, estava em 2,5% no ano. “Talvez a gente tenha que rever mais uma vez o PIB deste ano”, afirmou o ministro, que não enxerga um crescimento da economia menor do que a média mundial. Atualmente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) também estima um avanço de 3,2% na economia global. “Não tem por que não mirar uma taxa de crescimento, no mínimo, acima da média mundial. Estivemos muito tempo abaixo”, disse. Durante o evento, Haddad demonstrou otimismo com o cenário fiscal do país e defendeu novamente o arcabouço aprovado no ano passado. Segundo ele, as expectativas de inflação devem “voltar a se alinhar com o que a economia real está demonstrando” à medida em que o mercado reconheça “a consistência do arcabouço”.

Com a defesa da regra fiscal e a confiança em atingir a meta em 2024, o ministro ainda espera retomar o grau de investimento em pelo menos uma das agências de risco que definem a nota de crédito do país. Recentemente, a Moody’s elevou a nota do Brasil, de Ba2 para Ba1, o que indica que o país está a um passo do grau de investimento. Na visão de Haddad, a agenda apresentada pelo governo destaca que as “condições para o Brasil se desenvolver adequadamente estão quase dadas”. Nesse sentido, ele ainda espera ser necessário um “ajuste” no contexto fiscal. “Se defendermos a arquitetura do arcabouço fiscal, vamos chegar ao grau de investimento”, defendeu.

O ministro da Fazenda ainda disse que o governo espera viabilizar, em breve, uma proposta de reforma tributária sobre a renda, que deve ser entregue ao Congresso Nacional somente no ano que vem. “Não sei se será possível fazê-la esse ano, até porque estamos com um calendário apertado e tarefas inconclusas que queremos entregar esse ano, como o projeto da Fazenda com a União, de revisão de gastos”, apontou o ministro.

Haddad destacou que a equipe econômica trabalha para “levar todas as alternativas técnicas” para apresentar ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, além dos outros ministros de Estado. “Estamos abrindo as contas do Imposto de Renda atual. Quanto significa essas deduções por rubrica? Quais classes são favorecidas com a medida? Tem justiça tributária ou não?”, levantou.

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